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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Buraco d´Oráculo na festa de 8 ANOS do coletivo ALMA Ambiental


FESTA DE 8 ANOS DO COLETIVO ALMA
1º de outubro – sábado

Programação Gratuita
O Coletivo Metamorfose Social estará o dia todo grafitando no local

 

11h  Confecção de "brinquedos flutuantes" de papel e vento - Samara Costa/Alma e colaboradores

15h - Cortejo e intervenção artística da Rede Livre Leste.

16h - Apresentação do espetáculo "Ser TÃO Ser" - Buraco do Oráculo. 
    "Ser Tão Ser", do Grupo Buraco do Oráculo. Foto Rocco

17h - Roda de conversa com o Coletivo ALMA e grupos convidados.


18:30h Exibição do longa metragem "Olho da Rua", de Rogério Correa.


 


Local: Praça OCARUÇU - Rua Alaíde de Sousa Costa, altura 615. (continuação da Rua Júlio Bala, esquina com a Rua Virgínia Ferni, próximo ao posto de saúde UBS Boni III) Conjunto José Bonifácio - Itaquera


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Postado por Blogger no Aliança Libertária Meio Ambiente em 9/26/2011 11:07:00 PM


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Atualizado em 05/09/2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

As peripécias do Forrobodó para chegar ao Re-Praça

Re-Praça foi um verdadeiro Forrobodó!!!
(Foi o que escutamos do Edson ao chegar na sede do Buraco d`Oráculo no encerramento da programação do Re-Praça de maio, na zona leste de São Paulo).
Por Cia. Forrobodó de Teatro 
Durante anos a Cia Forrobodó de Teatro de São José do Rio Preto sempre procurou buscar maneiras de tornar o teatro uma arte acessível, que pudesse ultrapassar todas as dificuldades e levar adiante nossa ideologia pelo interior do Estado de São Paulo.
Uma família de cinco integrantes (pai, mãe e filhos) que sobrevivem de arte nesse interiorzão, lutando em manter as ideias vivas e que carregue a seriedade e profissionalismo que acreditamos na arte, sendo muitas vezes produzidas no quintal da nossa própria casa.
Pudemos mostrar ao longo dos tempos aqui no interior, o teatro de rua, prática pouco explorada aqui e que trouxe uma surpresa para a população, habituada em assistir apenas no Festival de Teatro da cidade. Fomos acreditando na nossa capacidade e pensamos: Por que não tentar também em outros lugares?
Então, depois de muita persistência, conseguimos chegar à cidade de São Paulo, por causa de um cidadão, acreditamos que tem muita gente boa. Foi um privilégio ter conhecido algumas pessoas e que de certa maneira, responsáveis para que finalmente chegássemos ao Re-Praça do Buraco d`Oráculo.
Quando recebemos o convite do grupo, sendo o Edson o nosso principal contato, ficamos extremamente felizes, já sabíamos da força atuante que este grupo tem. Não bastando apenas em produzir espetáculos de rua, mas que envolvesse num campo mais social as comunidades daquela cidade grande.
Topamos na hora e não víamos o momento de pegar a estrada e percorrer os 500 km de distância e fazer com que todos voassem no nosso singelo Pavão Misterioso. Passar um final de semana repleto de arte e troca.
Mas...
Por conta dessa vida nossa de artista tivemos que rebolar para que depois de alguns adiamentos de datas, pudéssemos participar do evento. Encontramos o dia 29 de maio, porém não naquele formato que havíamos pensado no inicio em ficar o final de semana. Tivemos que fazer um bate e volta, por conta da data e da criançada.
Mas, como o grupo Buraco d`Oráculo conhece bem essa realidade, compreenderam na maior.
E fomos...
É aí que começa a saga, acordamos cedinho já com o cenário todo no carro e prontos para pegar a Rodovia Washington Luiz (SP 310), só que quem é forrobodó sabe o que isso significa...
Em São Carlos paramos para abastecer e tirar nosso dinheiro de pedágio, porém o sistema da Caixa Econômica Federal estava INDISPONÍVEL, ou seja, ficamos ilhados em São Carlos. O tempo foi passando, porque tínhamos tempo de sobra, só que o sistema continuava indisponível... E agora?
Na cara e na coragem fomos para o trânsito pedir dinheiro para dar continuidade na nossa viagem, estávamos no meio do caminho... E sinceramente o que nos deu ânimo foi quando ligamos para o Edson e ele nos disse que não importava iam todos continuar nos esperando.
Pôxa, era tudo que precisávamos ouvir e depois de quatro horas ilhados em São Carlos, vendemos nosso rádio por R$ 90,00 para um gringo, um alemão, muito gente boa, chamado Julian, que fala português muito bem, na rodoviária da cidade e partimos para Sampa.
Chegamos na casa do Edson e ele nos levou as pressas para São Miguel Paulista, uma ruazinha enfeitada de gente boa e de crianças felizes, mesmo com aquele friozinho, né?
O mais emocionante foi ver aquele povo naquele frio esperando por duas horas fielmente e sendo animados pelos artistas da comunidade, por conta do atraso, foi maravilhoso ver que eles acreditaram também.
Fora a recepção, a mobilização em carregar coisas, arrumar água e tudo, tudo que pedíamos. O Adailton no microfone animando o pessoal enquanto montávamos o cenário. Pôxa, passamos aquela noite agarrados em beleza.
A apresentação foi encantadora, o público se envolveu, participou, brincou e todos nós saímos felizes no fim.
E de fato o que este projeto pôde fazer por todos nós foi de uma magia sem igual, admiramos muito o trabalho, o empenho que o grupo Buraco d`Oráculo tem, nos sentimos em casa com eles e com as crianças (Dudu e Bruna).
Celebramos todos nós com um ótimo yakyssoba e deixamos nossa troca para o mês de julho, quando a Cia Forrobodó volta a SP.
E queremos agradecer demais pelo convite, dizer que foi um prazer para nós fazer parte da história de vocês e como vocês da nossa. Acreditamos que para fazer teatro de rua o caboclo precisa ser operário mesmo, como fomos neste dia 29 de maio.
Pois toda esta luta precisa ser real, verdadeira, para que, de fato, possamos nos sentir vivos no nosso ofício, sabemos que para fazer teatro é necessário ter muita resistência, ainda mais quando se escolhe a rua como espaço de representação e acima disso um campo de atuação social, política, artística e humana.
No momento onde o artista popular na cidade de São Paulo não possui qualquer reconhecimento e valor, é absurdo pensar que existe toda uma "burrocracia" (como dizem os rueiros) para conseguir liberação de praças e até mesmo de passar o chapéu, uma tradição milenar da rua. A iniciativa do Buraco faz com que isso tudo possa transgredir as autoridades tiranas que limitam o exercício do ator na rua.
Mas, o povo fala mais alto, e é por eles que desejamos vida longa no nosso oficio para continuarmos produzindo e oferecendo o nosso melhor!
Parabéns pelo projeto e continuem em frente, sendo sempre o Oráculo desta gente.
Já a nossa volta na estrada, foi outro Forrobodó... Mas, essa história a gente deixa pra próxima.
Saravá!!!

domingo, 25 de setembro de 2011

Audiência Pública



De 25 para 90 milhões
Vamos aumentar os recursos do ProaC para 2012
 
Dia 28 de setembro às 14:00 na Assembléia Legislativa de São Paulo, haverá uma Audiência Pública convocada pela Comissão de Educação e Cultura para debater a equiparação dos recursos destinados à renuncia fiscal com os editais do ProaC. Este ano foram destinados 93 milhões para o  ProaC ICMS e 25 milhões para os editais. Queremos uma emenda da Comissão que corrija esta disparidade no orçamento da Secretaria Estadual de Cultura em 2012, aplicando os mesmos montantes de recursos para as duas modalidades de Financiamento Público para a Cultura.
Todos à Audiência Pública!!
Por um debate transparente sobre os recursos destinados à Cultura!!

sábado, 24 de setembro de 2011

A MENINA QUE FOI ARQUIVADA - TEATRO (Núcleo Cênico ProjetoBaZar)


 

  

Dia 24 de setembro às 16horas, ocorrerá a apresentação do espetáculo "A MENINA QUE FOI ARQUIVADA" integrando a programação do circuito de teatro de rua RE-PRAÇA, no Jardim das Camélias, Zona Leste de São Paulo.

 

 

Idealizada e realizada pelo grupo Buraco d`Oráculo, o circuito RE-PRAÇA teve início em Janeiro, já contou com apresentações de grupos de todo o país e faz parte das atividades do projeto "Narrativas de Trabalho", desenvolvido pelo grupo com recursos do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

 

No dia 25 de Setembro o grupo Buraco d`Oráculo encerra a programação de Setembro com o espetáculo "Ser TÃO Ser – Narrativas da Outra Margem".

 

"A MENINA QUE FOI ARQUIVADA"

Núcleo Cênico ProjetoBaZar – São Paulo/SP

DIA 24/09 às 16h

Recomendação: Livre / Duração: 50 minutos.

 

Sinopse:

A partir de uma pesquisa desenvolvida no arquivo Miroel Silveira - USP- que contém mais de seis mil processos de censura ao teatro paulista - a peça questiona o "NÓS", os pré fabricados, pré destinados e, transitando por personagens históricos e censurados da dramaturgia brasileira, narra a historia de uma menina, fruto de um aborto mal sucedido, cuja trajetória de vida fica entre a cruz e a bandeira, entre a educação moral cristã e as idéias revolucionárias.

 

Ficha Técnica:

Dramaturgia: Aurea Karpor

Núcleo de Encenação: Aurea Karpor e Gil Costa

Elenco: Aurea Karpor, Beatriz Barros, Gil Costa, Leandro Caldarelli, Nata Neumann, Rodrigo Costrov, Tiago Cintra.

Preparação Vocal: Tati Marazzo

Preparação Corporal: Mary´s Brambilla

Figurinos e contrarregragem: Victor Poeta

 

Sobre o Núcleo Cênico Projeto BaZar

 

O Núcleo Cênico ProjetoBaZar, da Cooperativa Paulista de Teatro, estreou seu primeiro espetáculo em 2006 : "IRA" – adaptação do livro Xadrez, Truco e Outras Guerras de José Roberto Torero – livremente inspirado na Guerra do Paraguai. Desde então segue pesquisando a teatralização de textos não dramatúrgicos resultando em quatro espetáculos adultos e um infantil - sempre pensando em espaços alternativos. Em 2009 recebeu o prêmio "Cidadania em Respeito à Diversidade", ano que também iniciou sua pesquisa em Teatro de Rua. Participou do Seminário Nacional de Dramaturgia para o Teatro de Rua, da III Mostra de Teatro de Rua da Zona Norte, do Mutirão Cultural na Quebrada – 4 anos de CICAS entre outras atividades.

Site: www.projetobazar.com.br

 

 

"Ser TÃO Ser – Narrativas da Outra Margem"

Buraco d`Oráculo - São Paulo / SP

Dias 25/09 – 16h

Recomendação: Livre / Duração: 50 minutos.

 

Sinopse:

Ser TÃO Ser – Narrativas da Outra Margem, é um espetáculo construído a partir das histórias de vida dos moradores da região do extremo leste de São Paulo.  Onde o grupo procura levar para a rua, um relato sobre o homem desterritorializado, o homem que esta fora do seu território, jogado a margem de uma cidade grande.

 

Ficha Técnica:

Direção – Adailton Alves

Texto colaborativo criado pelo grupo.

Elenco: Adailton Alves, Edson Paulo, Johnny John, Lu Coelho e Selma Pavanelli

Preparação corporal: Paulo de Moraes

Preparação musical: Celso Nascimento

Preparação vocal: Melissa Maranhão

Preparação circense: Selma Pavanelli

Treinamento de Yoga: Lu Coelho

Treinamento de Clown: Bete Dorgam

 

Sobre o grupo Buraco d`Oráculo

 

O Buraco d`Oráculo surgiu em 1998, com o intuito de criar um teatro de rua que discutisse o homem urbano contemporâneo e seus problemas.

O trabalho do grupo é calcado em três pontos fundamentais: a rua, como espaço privilegiado de encontro direto com o publico; a cultura popular como fonte geradora de inspiração e motivação, e o cômico (destacando-se a farsa e as relações com o "realismo grotesco").

Os espetáculos do grupo são protagonizados por pessoas comuns e que estão à margem da sociedade, como vendedores ambulantes, pedintes, entre outros. O Grupo possui em seu repertório sete montagens em que buscam manter essas propostas: A Guerra Santa – 1998; Amor de Donzela, Olho Nela! – 1999; Quem Pensa Que Muito Engana, Acaba Sendo Enganado – 2000; A Bela Adormecida – 2001; O Cuscuz Fedegoso – 2002; A Farsa do Bom Enganador – 2006; Comi Cidade – 2008; Ser Tão Ser – narrativas da outra margem – 2009.

 

 

 

Sobre RE-PRAÇA

 

Re-Praça é um circuito teatral de rua criado e realizado pelo grupo desde 2009 para aprofundar laços com as comunidades da região leste da cidade de São Paulo, tendo a praça como um espaço real de possibilidade de trocas simbólicas. O grupo acredita que é na praça que está a viabilidade de acesso ao teatro aos moradores das comunidades periféricas, ao mesmo tempo em que a presença artística valoriza o local público como espaço real de convivência e lazer. O trabalho do grupo é pautado na escuta das histórias que são contadas pelo público das praças aos seus integrantes e na criação de narrativas teatrais onde essa troca mais direta com o espectador é fundamental.

 

 

Sobre o projeto Narrativas de Trabalho

 

O principal objetivo do projeto Narrativas de Trabalho é discutir, por meio de cenas, performances e intervenções, a precarização do trabalho. O projeto conta ainda com um trabalho de aperfeiçoamento artístico com estudo teórico-prático sobre o épico; a realização da Mostra de Teatro de São Miguel, manutenção de sede e sítio eletrônico, troca artística com grupos convidados e parceiros de outros Estados e a continuidade do Café Teatral (encontros para bate-papos com artistas convidados ) e publicação de A Gargalhada  (jornal mensal e informativo do grupo). Ao término do projeto será publicado um caderno relatando todo este percurso.

 

 SERVIÇO:

 

RE-PRAÇA (Setembro 2011)

 

Dias24 e 25 de setembro de 2011

Sábados e Domingos às 16h

Endereço: Rua Mirassol d`Oeste, em frente a Associação dos Moradores do Jd. Das Camélias - São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo.

GRÁTIS

 

GRÁTIS

Informações:

Telefones: (11) 8152-4483 / (11) 8188-3670

Site: www.buracodoraculo.com.br

Blog: http://buracodoraculo.blogspot.com/

 

Assessoria de Imprensa:

Aurea Karpor (11) 8337-5168

assessoria@projetobazar.com.br / akarpor@gmail.com

 

 


Ser TÃO Ser em São Carlos e no Re-Praça


O Buraco d`Oráculo estará apresentando o espetáculo "Ser TÃO Ser - narrativas da outra margem" neste final de semana fazendo parte de duas programações. No sabado (24/09) faremos parte da programação da 16ª Semana de Arte e Cultura da Usp - São Carlos, apresentando as 18h00 na Praça XV de Novembro em São Carlos-SP e no domingo encerraremos a programação do Circuito Re-Praça de setembro, apresentando às 16h00 no Jd. das Camelias, na Rua Mirassol d`Oeste esquina com a Rua Flor de Inverno.
Compareça, acompanhe a nossa programação. 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Buraco d`Oráculo no III Encontro de Teatro de Mauá e Tusp S. Carlos

Quinta, dia 22 de setembro faremos duas apresentações do espetáculo A Farsa do Bom Enganador dentro da programação do III Encontro de Teatro de Mauá. As apresentações ocorrerão às 12:00 h e 16:00 h.

No sábado, estaremos em São Carlos participando do Circuito Tusp com o espetáculo Ser TÃO Ser - narrativas da outra margem às 18:00h.

Compareçam!

Maiores informações (11) 8152-4483

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Texto de Jussara Trindade sobre o espetáculo Ser TÃO Ser

SER TÃO SER: UMA MELODIA, MUITAS HISTÓRIAS
Por Jussara Trindade[1]
Calçadão de Canoas, pleno calor de janeiro. O Buraco d'Oráculo, trupe paulistana, se prepara para a apresentação de Ser TÃO ser – narrativas da outra margem, espetáculo que integra a programação da III Mostra de Teatro de Rua da RBTR-RS. Pessoas passam, arrastando sombras pelo calçamento quadriculado, vultos de um sol já cansado do dia quente de trabalho. Alguns diminuem o passo e outros até param momentaneamente perante um estranho aglomerado de objetos aparentemente abandonados sob um poste de luz: um banquinho plástico, dobrável, uma caixa aberta, um frasco de álcool e uma caixa maior, de madeira, que chama a atenção porque do lado de dentro da tampa, aberta como um velho guarda-roupa, fita-nos a figura conhecida de um Roberto Carlos ainda jovem e cabeludo.
Apoiada sobre essa caixa, uma bandeja de madeira com várias canequinhas de café, de ágata branca, e um tecido rendado displicente, jogado ao lado. No fundo da caixa há ainda outra fotografia do Rei usando um brinco de pena de ave, capa de um famoso long-play que nos lembra o galã que ele foi um dia, habitando as portas de guarda-roupas, penteadeiras e a imaginação apaixonada de tantas mulheres por este Brasil afora... é quase um altar. Assentados sobre o assoalho da caixa, vários pequenos objetos, testemunhos de uma vida comum; tecidos embolados, papéis... ao lado, no chão, repousa um velho bule de café.
Minha lente de observadora flagra o encontro do grupo de atores, que parecem estar combinando algo sobre a apresentação. Eles percebem a minha intrusão. Disfarço, continuo a registrar o entorno, as pessoas, as portas já fechadas de algumas lojas. De repente, os atores se afastam, abrindo a roda e batendo palmas. É o início do espetáculo.  
Lu Coelho, atriz da primeira formação do grupo, vem em minha direção com o seu figurino regional: saia rodada, colete de cores delicadas sobre a camisa clara, lenço florido na cabeça e o detalhe sutil de um pano-de-prato no ombro. O andar, já meio arrastado, revela que agora Lu é uma velha senhora. Sem dar muita conversa, ela se abaixa e, com a certeza da tarefa que lhe cabe, começa a mexer nos objetos que eu acabara de filmar. Estou bem próxima e me dou conta de que ela começa a fazer café, enquanto a minha câmera passeia ao redor. Procuro os outros atores, mas eles dispersaram pelo espaço e cada um seguiu um caminho particular.
Então, antes o ouvido do que o olho, deparo-me com outro ator: é Adailton, que vestido com uma roupa de algodão cru, chinelos e chapéu de vaqueiro nordestino, e violão em punho, começa a andar carregando uma estranha mochila retangular nas costas. Ao passar por um grupo de pessoas, cumprimenta-as tocando levemente o chapéu sobre a testa em sinal de boa educação, coisa que o personagem aprendeu provavelmente em terras distantes. Vai caminhando, devagar, enquanto dedilha as cordas do instrumento. Os outros atores também iniciam seus próprios percursos, individualmente, em meio dos transeuntes, carregando mochilas semelhantes à dele.  
Volto-me para as notas musicais que o violão, agora já transmutado em viola pela magia do teatro, despeja no ar. O ator parece emiti-las sem preocupação, sem compromisso com qualquer forma definida, mas aos poucos elas começam a se agregar, esboçando um desenho no espaço: um som se junta a outro, depois se liberta, retorna, vai ao encontro de outro, tornando concreto o desejo de encontrar companheiros para dançarem, juntos, uma estranha coreografia. Assim, vai nascendo uma melodia.
Agora o imigrante nordestino está caminhando à minha frente e eu o sigo como uma criança encantada pela flauta de Hamelin. Nesse momento o calçadão está ficando vazio, e a sombra dos prédios ocupa, agora, todo o lugar onde antes o sol havia reinado absoluto. A tarde cai, junto com as notas musicais daquela viola. O ator passa por pessoas que ainda caminham, talvez saindo do trabalho. Agora é bem claro que, nesse perambular uma melodia tímida se fez surgir... sonoridade nordestina que me esforço para ouvir, enquanto um amigo puxa conversa desviando momentaneamente a minha atenção.
Adailton estanca; olha à volta como se procurasse alguma coisa e retorna lentamente, como se desistisse dessa busca. Faço um giro de 180º e reencontro a velha senhora ainda fazendo café a vários metros de distância. Todos os outros atores estão distantes de mim; resolvo então voltar para o violeiro, que repete a mesma frase melódica enquanto se distancia novamente, recomeçando o trajeto do início. Nesse momento percebo que o figurino que ele usa – calças folgadas e uma túnica, ambos de algodão cru - completa a imagem pintada na mochila às suas costas: terra. Terra marrom, rachada, muito rachada. E céu. Marrom e azul-celeste. E a areia alva do tecido.
Adailton, o violeiro, carrega no corpo a terra natal em cores e formas. É a presença indelével de outro lugar, estampada na trama da roupa e da memória. Vagueia, parecendo meio perdido, meio pedindo ajuda com o olhar, acompanhando quem passa. Mas quem passa não olha para ele; sua presença é sumariamente ignorada pelos passantes. 
O imigrante se aproxima de um casal sentado num banco, cumprimenta-o respeitosamente com o chapéu e inicia uma fala. Os dois, apesar de um pouco surpresos, dão atenção à conversa desse peregrino que veio interromper, talvez, uma conversa íntima:
"... a gente escreve a própria história. Quando a história da gente se junta com a do outro, é mais bonito. É uma outra história. Ói, se vocês quiser, pode me seguir. Porque pra onde eu vou tem mais história, viu? Todo mundo é assim: começa onde nasce. E termina onde escolhe".
            E vai embora, deixando o casal sorrindo e se entreolhando. Caminha lentamente de volta ao início da jornada. Vai, parando a cada passo, atento ao trajeto à sua frente, sob uma pirâmide de raios de luz que se infiltraram momentaneamente pelas brechas entre os prédios.

De volta pro meu aconchego...
Os outros atores-viajantes começam a regressar para o lugar inicial de encontro no espaço do calçadão. Adailton também se dirige para lá e ao chegar perto daquela senhora "do café", para e tira a mochila das costas. Esta se transforma num banco onde o ator senta, atraindo o público com placidez de velho sertanejo. Lu convida os que passam com um gesto camarada de mão. Outro peregrino – o ator Johnny John - chega, repetindo palavras que eu já ouvira antes: "Todo mundo é assim: começa onde nasce. E termina onde escolhe". Logo os outros atores, Edson Paulo e Selma, vêm se unir à trupe. Assim, todos chegam à "cozinha" daquela senhora hospitaleira, tiram suas mochilas das costas fazendo uma roda que anseia pelo café, cujo aroma se espalha pelo ar. Cada mochila é uma caixa de madeira, um guarda-roupa, um baú de madeira, no qual carregam as histórias de suas vidas: raízes, sonhos, objetos, amores.
Surge agora uma canção alegre, que recebe um acompanhamento rítmico: uma das mochilas-caixas virou instrumento musical que Johnny John percute com as mãos, sentado sobre ele à moda de um carrón argentino.  Selma também acompanha o ritmo, batucando na lateral de sua caixa com uma baqueta.
Uma cadência harmônica simples aparece, oferecendo a introdução para Adailton "puxar" o canto de Calix Bento (domínio público):
"Ó Deus salve o oratório (bis)
onde Deus fez a morada, oiá meu Deus... onde Deus fez a morada, oiá!
Onde mora o Cálix Bento (bis)
            E a hóstia consagrada, oiá meu Deus... e a hóstia consagrada, oiá!
            De Jessé nasceu a vara (bis)
            Da vara nasceu a flor, oiá meu Deus... da vara nasceu a flor, oiá!
            E da flor nasceu Maria (bis)
            De Maria, o Salvador, oiá meu Deus... de Maria o Salvador, oiá!"
Todos se integram à cantoria, timidamente no início e a seguir, com entusiasmo. É um canto religioso-profano do repertório tradicional da Festa do Divino, testemunha do fervor católico que impregna toda a música "de raiz" do interior do país e particularmente de Minas Gerais, terra de Pena Branca e Xavantinho, dupla sertaneja que o popularizou nos anos de 1970.

O contraponto cênico-musical de Ser tão ser
Do ponto de vista da musicalidade da cena, pode-se dizer que o Buraco d'Oráculo utilizou, no prólogo apresentado acima, um procedimento musical em que a solidão do nordestino é evocada pela execução quase aleatória de sons de uma escala modal – vestígios de um mundo antigo, ancestral, coletivo – que aparecem como que deslocados do mundo atual – contemporâneo, acelerado e individualista –, materializando sonoramente a precariedade do homem em meio ao ambiente urbano contemporâneo. É ao mesmo tempo um lamento, um chamado e um testemunho desse sentimento de nostalgia do mundo que foi deixado para trás e do espanto de ver-se arremessado repentinamente noutro lugar, na qual o imigrante não se sente à vontade, pois as convenções aí reinantes ainda lhe são estranhas.
A sua música é também um porto seguro, e o homem se agarra a ela como o ator segura o instrumento junto de seu corpo, de seu peito, na única intimidade possível naquele universo de exposição pública e anônima que a cidade traz consigo, deixando à mostra a falta de acolhimento e a fragilidade do ser. É também, um signo dessa busca de afeto, a viola que o ator abraça e acaricia com carinho, devolvendo ao objeto o aconchego de um lar distante, talvez perdido para sempre. Um pouco mais tarde, quando esses seres solitários se encontrarem, é para repartir aquela intimidade perdida; na lembrança de uma cozinha compartilhada por familiares, amigos e vizinhos, a memória como único lugar possível de usufruir do sentimento de pertencimento a uma comunidade, a um coletivo social onde cada um é "Seu" Fulano ou "Dona" Sicrana, e não apenas "um homem" ou "uma mulher" nas ruas da cidade.
Mas, esse mundo regido pela dimensão sensorial – o cheiro do café, o calor dos corpos próximos e do fogo aceso, o olhar do outro pertinho, o gesto de dividir o assento para ouvir "mais uma história" – é um mundo entre parênteses, um mundo situado noutro tempo e noutro lugar. Então, a música que o anima é assim vivenciada, em ritmo e voz. Há um canto que agora pode ser vivido coletivamente porque todos o conhecem, é parte desse mundo de todos, e cujo significado é também compartilhado por todos:
"Ó Deus salve o oratório; ó Deus salve o oratório; onde Deus fez a morada, oiá meu Deus; onde Deus fez a morada, oiá..."
O Divino Espírito Santo é invocado, em alto e bom som, entrelaçando o homem ao sagrado. Não se trata apenas de entoar uma canção típica dessa festa popular, mas, sobretudo de comungar o significado daquela experiência de perda das raízes. É a vivência do próprio Mistério sagrado que une o humano e o divino, uma súplica a Deus para que desça em seu raio de luz e faça daquele lugar a Sua morada. É no milagre da esperança, operado pela canção, que os homens e as mulheres desgarradas de seu universo conhecido encontram energia para enfrentar as dificuldades que os esperam no novo mundo inóspito; e é também a força que os atores vão buscar para apresentar suas histórias – e não somente as histórias de seus personagens – ao público. Por isso, as notas soltas de antes aglutinam-se numa mesma canção: melodia, ritmo e harmonia se unificam como num hino de batalha. Por isso talvez, o batuque que a acompanha é executado numa intensidade quase excessiva, que contradiz a delicadeza da viola e das palavras entoadas, sugerindo que a ação sobre o mundo deverá substituir, de agora em diante, o estado nostálgico anterior.
Quando se fecham os parênteses – como numa preparação antes da luta, a inspiração profunda antes do salto no abismo – e a imagem da cozinha aconchegante é desfeita, o mundo volta a ser aquele da realidade urbana do início; entretanto, agora todos estão mais preparados para os percalços que virão. Não são mais pobres diabos solitários, pois construíram ali uma fortaleza interior. E o espetáculo pode, então, continuar.

A música antes da história: imagem sonora da solidão
Uma viola que caminha produz, no espectador-ouvinte, a vivência plena do espaço físico. Espaços imaginários ou metafóricos deixam de ser subjetivos e fictícios para se tornarem extremamente vívidos e concretos na experiência de errar pelo espaço junto ao caminhante solitário. Vivemos com ele a sua solidão, a perda de um ponto de segurança, a busca de solidariedade. 
As notas musicais soltas e quase aleatórias a princípio, que aos poucos vão construindo uma melodia de estrutura modal, criam poeticamente a imagem sonora do homem solitário na cidade grande, à procura de calor humano. A melodia só se apresenta claramente delineada à medida que o personagem consegue reunir, daqui e dali, pedaços espalhados de seu mundo cultural e afetivo. Dessa forma, homem e música descrevem paralelamente no espaço – o primeiro, sobre a terra; a segunda, pelo ar – o desenho de seus respectivos processos identitários, delineando-se mutuamente num movimento que serpenteia aparentemente sem direção, mas que se dirige a uma mesma forma sensível. Analogia entre estrutura musical e ação cênica, um contraponto entre música e cena.  
Essas notas musicais, soltas, que aos poucos se configuram numa melodia, revelam um processo de construção que, da desagregação inicial, se dirige a uma estrutura mais organizada – reiterando musicalmente o tema metafísico "do caos à forma". São notas avulsas que nascem sem direção, sem intenção, soando apenas, numa vida que se preocupa apenas em ser vivida. Aos poucos encontram uma ou outra com quem parecem se combinar melhor, desejando construir as primeiras sílabas de uma fala ainda balbuciante. Um som que se encontra com outro som, afasta-se desse para retornar a um anterior, negociando e renegociando alianças sonoras. Por meio desse processo, demonstra maior afinidade com alguns do que com outros. Surge, assim, uma frase musical elementar de três notas musicais, vacilante, que se repete e repete, exercitando a sua presença no mundo, como uma criança que começa a andar sozinha.
Um pequeno discurso musical, primitivo, essencial, sem adornos. Mas é o bastante para definir um rudimento de estrutura sustentadora. Aos poucos, fortalecidas, as notas se alinham em tímidas sequências; depois, dão-se as mãos e ousam novos movimentos, agora com a certeza de poderem se afastar cada vez mais sem perderem-se novamente na imensidão do espaço. Uma a uma, notas soltas formam motivos melódicos mais definidos, desenhando uma linha sonora cada vez mais nítida. O sentido musical até então esboçado flutua agora no ar, sugerindo uma linha sonora que mergulha reiteradamente, descrevendo um movimento descendente.
A certa altura dessa improvisação cênico-musical, torna-se possível reconhecer uma escala modal, tipicamente descendente, que une no mesmo gesto sonoro o passado distante de uma Europa mediterrânea e de um Brasil caboclo onde, pela força de uma evangelização católica e canônica, preservaram-se esses modos musicais, eternizados na sonoridade de seus cantos de fé e conversão. Submersas nas correntes profundas da cultura popular nordestina, resquícios de escalas gregas que sobreviveram no canto salmodiado dos missionários jesuítas, constituindo testemunhos de uma ancestralidade marcada pela mistura de culturas, etnias, territórios, vozes.
No trecho musical analisado, não há definição de uma nota musical "tônica" que exerça atração para uma resolução final (como na música tonal, mais tardia cronologicamente, na história da música ocidental), o que torna perceptível a tendência dessa melodia em descrever reiteradamente um desenho circular de retorno ao mesmo motivo sonoro. Esta é, inclusive, a característica fundamental da música modal: não repousar definitivamente sobre um som, uma derradeira nota musical – ou até mesmo um acorde final estrondoso, como o romantismo propôs – que finaliza um raciocínio, como um ponto final termina a frase falada.
Ao contrário: o "raciocínio" da melodia modal parece estar sempre em movimento; não segue uma trajetória retilínea para desembocar previsivelmente num ponto determinado. A melodia modal descreve linhas sonoras sinuosas, espiraladas ou talvez circulares, num jogo sonoro que inverte a lógica racional e induz o ouvinte a penetrar noutra esfera sensível e a experimentar outro regime de pensamento.
No espetáculo Ser TÃO Ser, todas as vezes que o peso da sociedade capitalista, moderna e urbana, é demais para os personagens e aparece uma grande tensão dramática, essa melodia arcaica volta a soar. Misto de tristeza, solidão, errância, saudade do lar e perda do aconchego, ela também representa um retorno às origens mais remotas da alma, o "estado zero" de onde é preciso começar – ou recomeçar – tudo. Por isso, quando na cena seguinte os personagens chegam à Rodoviária de São Paulo, ela ressurge; e também depois, quando os abrigos de cada um são derrubados pela prefeitura da cidade. O canto de solidão sem palavras paira sobre os escombros dos barracos derrubados pela dureza do mundo urbano. Ao mesmo tempo tristeza, mas também oceano primordial de onde podem emergir as energias mais profundas. É daí que aqueles personagens irão retirar o sustento de seu ser.
A nostalgia do sertão presentificada em Canoas foi também a do peregrino que trouxe das areias de desertos remotos a experiência da solidão e do nomadismo em busca de outras terras. Uma forte indicação da herança cultural árabe na música nordestina é a presença de melismas que, aqui, escorregam dos dedos do tocador, aparecendo às vezes como simples apoggiaturas, às vezes como uma nota base; trata-se de um cantochão que apóia, numa mesma nota musical, quase todas as notas da melodia. Na verdade, é esse o "baixo" da viola que se repete por toda a improvisação – uma característica do próprio instrumento musical utilizado pelo ator – que o polegar dedilha quase que por automatismo, buscando a mecânica de execução mais fluente e graciosa. Presença dos povos nômades que durante séculos migraram da Arábia e do Saara para a Península Ibérica trazendo consigo seus pertences, cantos, fé e saudade, misturando o espírito nostálgico – do desejo de regresso – ao ímpeto do viajante aventureiro – impulso de seguir adiante – sentimento contraditório do qual compartilham, provavelmente, os teatristas de rua.
Depois, ao fazer a roda para o café, a errância sugerida no prólogo de Ser TÃO Ser encontra um ponto de repouso. A música que vem da viola, de condutora de um movimento contínuo pelo espaço, se transforma em ponto de referência estável, apoio sonoro e harmônico para as vozes dos atores que agora cantam, em uníssono. Aquele lugar de estabilidade que a cena "do café na cozinha" cria faz, da viola errante, o objeto integrador do grupo de atores/personagens. É ele, o instrumento musical ainda antes do café quentinho servido aos convidados, o elemento cênico que estabelece os laços de ligação entre cena e público, num mútuo acordo sonoro.
Outras músicas serão ainda entoadas pelos atores, desse momento até o final do espetáculo. Outras sonoridades, influências explícitas do mundo contemporâneo que se desdobrará em novos contrapontos, cenas, cantos. Entretanto, é aquele fragmento melódico inicial o que mais fortemente ilumina as possibilidades de uma musicalidade teatral própria ao espaço aberto da rua, tanto pela estreita conexão sonora que estabelece com o tema da migração nordestina para a Grande São Paulo, quanto pela experiência concreta do sentimento de perda das referências – espaciais e temporais – que pode oferecer ao espectador-ouvinte.
Canoas, janeiro de 2010


[1] Doutoranda em teatro pela Unirio (Universidade Federal do Rio de Janeiro), integrante do Núcleo Brasileiro de Pesquisadores de Teatro de Rua, organizadora (em parceria com Licko Turle) de dois livros: Tá na Rua: teatro sem arquitetura, dramaturgia sem literatura, ator sem papel; Teatro de Rua no Brasil: a primeira década do terceiro milênio.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Crítica de Alexandre Mate sobre Ser TÃO Ser





Ser tão sem, sem ser tão, tão sem ser... (Uma brincadeira a partir de) Mário de Andrade.

A prática sem a teoria e esta sem aquela de pouco valem. Também em arte a práxis é vital ao criar. De outro modo, a objetividade do viver é alimentante da subjetividade do sonhar. O educador espanhol Jorge Larossa Bondía afirma, de modo sábio (porque ele aprendeu com aqueles que vieram antes e com aqueles com quem ele conviveu), no texto Notas sobre a experiência que: "Pensar não é somente raciocinar ou argumentar, como nos tem sido ensinado ao longo da vida; pensar é também dar sentido ao que somos e ao que nos acontece." É exatamente disso que se trata, ao coletarem relatos de vida de gente que mora muito além de qualquer e obrigatório direito-cidadão, os integrantes do Buraco d'Oráculo (grupo com mais de 10 anos, radicado na zona leste da cidade de São Paulo), buscavam levar para a cena de rua, mediado por símbolos, a história de tantos desterrados, desterritorializados... 

Ao assumir o desafio proposto por Ser tão Ser: Narrativas de Outra Margem, para ressignificar esteticamente as vozes da imensa comunidade de destino que compreende a periferia paulistana, o Buraco d'Oráculo, porque tem estofo e condições para isso, conciliam de modo extraordinário o binômio – apresentado por Walter Benjamin em O autor como produtor – qualidade estética e pertinência política. 

Na 26ª edição do Festivale – Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraiba, o Grupo, já presente em outra edição, teve como seu lócus (espaço de apresentação), a "tímida" – quando comparada à majestade da Afonso Pena – Praça Cônego Lima. Trata-se de uma praça quase protegida, posto que não cortada por 4 ruas como é comum. Mais próxima à XV de Novembro, de todas as árvores, destaca-se uma belíssima seringueira (provavelmente centenária). Antes de o espetáculo começar, com belas músicas de Chico Buarque, Luiz Gonzaga... "me peguei perguntando", porque me é relevante: "Quem teria plantado aquela árvore? Quem, ao longo de tantas décadas, conservou aquela árvore e tantas outras que lá estão?" Claro, nome de jardineiros não figuram da História! Que importância teria esse tipo de gente para uma história contada, desde sempre pela elite?
Para onde iria aquela gente toda, quase em frenesi, que circulam e atravessam a pequena Praça? Quem desse imenso mar humano figurará, qualquer dia, da História oficial? Muito provavelmente nenhuma... 

Muito distante dali, daquela singela Praça, mas aterrado na História, fui despertado para ir a um dos extremos daquele espaço: a peça começava sob um sol escaldante...  Uma atriz dava início à prosa. A roupa bastante colorida, mas a narrativa tecida por significativa "tristezura". Lu Coelho era a primeira corifeia do épico que ali se instalava: personagem alegórica de tantas Lurdinhas (e vários outros nomes) desterradas pelo Brasil. Sem qualquer afetações, mas gigantemente cúmplice, a atriz apresenta a narrativa de sua emblemática personagem. O café (de verdade) que era preparado durante a fala não daria para todos, então, um expediente magistral e popular, afirma a personagem: alguns "olham o cheiro", outros lambem os beiços e outros tomam... Pronto, todos degustam aquele café! Durante o café tomado, "olhado", "beiçado" entra a cantoria: Calix bento. Ó, Deus salve o oratório (bis), onde Deus fez a morada. Óia meu Deus. Certa comoção planta-se em muita gente que foi apanhada de modo distraído pelo teatro de rua.

Na sequência, o ator Edson Paulo apresenta uma narrativa impecável na "pele" de José Justino Ventura. Assim como Lurdinha, este, segundo as autoridades é "mais um Zé", mais um migrante a inchar a cidade... Por meio da fala firme do ator, mesclada àquela emocionada da personagem, uma primeira inquietação é apresentada em coro: 

– A gente, cada um de nós, começa onde nasce. Termina onde [Deus?] escolhe! Durante o espetáculo apresentado dia 06/09, uma senhora, adere ao coro e completa a frase. 

– A gente começa onde nasce. Termina onde escolhe, porque já estamos na curva do mundo.
Na rodoviária, mais e mais gente sendo despejada para contemplar o horror e viver a miséria humana de uma cidade inóspita, perversa... A diáspora de gente se instaura e se faz quase que por meio de uma fila indiana ininterrupta.
A gente desterritorializada ocupa áreas abandonadas e infindamente  distantes do centro. Os atores marcam o terreno ocupado delimitando o chão com terra vermelha. Aquela gente constrói coisas que se parecem casas, e tenta levar sua vida... trabalhando incansavelmente. Os atores, em coro, novamente, apresentam uma nova canção, que é quase um canto de trabalho: de gente que vende sua força de trabalho. Gente daquele tipo, com a expansão do poder econômico precisa deixar o território ocupado para dar lugar a um grande empreendimento. 

A atriz Selma Pavanelli canta com a mesma força e atitude daqueles que fazem e cantam seus raps. A "rapeira" pré-anuncia a morte de Lurdinha pela truculência da polícia. Na cena de rua, cujo cenário próximo é a praça, e nela (na praça), outra vez a seringueira... é absolutamente curioso, mas no momento de morte uma lufada de vento mais forte, faz a seringueira chorar (muitas folhas caem e dão a impressão de um choro intenso)... Efeito da natureza. Espécie de milagre do teatro de rua!
No despejo daquela gente, muitos recebem uma carta de despejo da Prefeitura de São Paulo (trata-se de cópia do documento original). O documento promove certo alvoroço. Nesse exato momento, chega um casal jovem que se preocupa, pensam que os vendedores ambulantes é que seriam despejados da praça... O corifeu (Adailton Alves) logo depois disso afirma, em contragesto (alusão a ser foda) que Deus ajudaria os desterrados. 

Do despejo muitos moradores vão morar em conjuntos habitacionais: tudo cinza, sem felicidade, com muita promiscuidade entre os vizinhos, pelo apertamento. De modo absolutamente panfletário (e necessário), o elenco, em forma de coro, canta: "Se o povo soubesse o valor que tem não aguentava desaforo de ninguém."

Em uma hora de espetáculo, histórias de desterrados ganham a cena e falam por incontáveis sujeitos falantes, mas silenciados pela História oficial. Adailton Alves, diretor do espetáculo, consegue articular o trabalho colaborativo e criar expedientes e cenas vibrantes. O público presente ao espetáculo, abaixo do sol das onze ao meio-dia, concordava com o olhar, entre emocionado pelo assunto e pelas imagens criadas.

No trabalho coletivo, música e figurinos têm função épica: tudo feito e construído pelos integrantes do Grupo. Nos adereços e figurinos singelos a presença das mãos dos homens.

Grande momento, singular e importante espetáculo, parafraseando alguém do público: "A terra sente a necessidade de ser útil!"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Programação setembro-2011

Nesse mês teremos a presença do grupo colombiano Luz de Luna e da Fraternal Cia. de Artes e Malas-Artes.

Compareçam toda a programação é gratuita!